Mercado
jurídico
Advogado no cargo de CEO é
uma nova tendência da profissão
17 de julho de
2017, 8h53
Por João
Ozorio de Melo
A incursão
dos advogados no mundo da política
não é novidade.
Mais da metade dos presidentes
dos EUA (24 em 45 até hoje)
saíram da advocacia. A
novidade, nos últimos anos,
é a incursão progressiva
dos advogados no mundo empresarial,
também no posto de líder
— ou de CEO de grandes corporações.
Essa é
uma tendência que vem se
fortalecendo, de acordo com um
estudo de pesquisadores da Universidade
de Chicago, da Universidade Estadual
da Flórida e da Universidade
Stony Brook, que examinou a formação
educacional de 3.500 CEOs e os
comparou com os resultados de
milhares de ações
judiciais contra sociedades anônimas.
Uma das principais
conclusões do estudo foi
a de que as corporações
lideradas por CEOs com formação
jurídica foram menos processadas,
enquanto as demais corporações
enfrentaram mais contenciosos,
sobretudo nas áreas de
antitruste, direitos civis do
trabalhador, contratos, trabalhista,
valores mobiliários (financeira)
e lesões corporais.
O estudo mostrou
também que as corporações
dirigidas por CEOs com formação
jurídica se saíram
melhor nos contenciosos que enfrentaram
(ou perderam menos) e tiveram
de fazer menos acordos para encerrar
ações movidas contra
elas. Isso significa uma economia
considerável de recursos
financeiros e humanos.
A conclusão
óbvia é a de que
advogados se tornam CEOs mais
úteis para as corporações
mais sujeitas a processos, como
as dos setores farmacêutico
(nos EUA), financeiro e de seguros.
A visão do aspecto jurídico
da administração
de empresas se torna um fator
decisivo no sucesso geral da organização.
Em termos de comparação,
o estudo menciona os casos dos
laboratórios farmacêuticos
Merck e Pfizer, ambas com problemas
jurídicos semelhantes:
responsabilidade civil por efeitos
colaterais cardiovasculares resultantes
de medicamentos para artrite reumatoide.
A Merck, que não é
dirigida por um advogado, pagou
US$ 4,85 bilhões em 2007
em acordos para encerrar processos
contra ela. A Pfizer, liderada
pelo advogado Jeff Kindler, pagou
US$ 890 milhões em 2008,
também em acordos para
encerrar ações.
Um advogado, por
sua formação, tem
capacidade mais aguçada
para prever riscos. No estudo
em questão, o CEO da Home
Depot (uma das maiores empresas
de material de construção
dos EUA), Frank Blake, advogado
formado pela Faculdade de Direito
de Columbia, deu uma explicação
bem-humorada para esse fenômeno:
“Pessoas normais vão
para a Faculdade de Direito e
lá elas aprendem a se preocupar
com o que nenhuma pessoa normal
se preocuparia”. E é
isso que um advogado faz o tempo
todo.
Isso pode ser
bom, sob alguns aspectos, mas
também funciona como um
fator negativo, quando um Conselho
de Administração
deseja nomear um novo CEO para
a corporação. Existe
a ideia de que advogados são
avessos a riscos e, portanto,
podem desacelerar – ou mesmo
frear — o crescimento da
empresa.
Porém,
nos últimos anos, o conceito
de gestão de riscos ganhou
ímpeto na economia, e a
visão abrangente que os
advogados têm das questões
que se apresentam no dia a dia
empresarial tornou-se um “plus”.
Os CEOs advogados, tal como os
diretores jurídicos das
empresas, estabelecem políticas
internas que reduzem os riscos
e facilitam o compliance, disse
a advogada e CEO da Spectra7 Microsystems
Inc., Cynthia Cole, ao Jornal
da ABA (American Bar Association).
"O cargo
de CEO requer a habilidade de
avaliar problemas e analisar situações
por todos os ângulos, para
tomar decisões mais seguras",
disse o CEO da Continental Airlines,
Jeff Smisek, um ex-advogado corporativo
em Houston, Texas. “E, em
cargos de liderança, precisamos
ser muito persuasivos na comunicação
de nossa visão estratégica
e na descrição do
caminho que a empresa vai seguir.
São habilidades que desenvolvi
na Faculdade de Direito e em minha
atuação como advogado”,
afirmou ao Jornal da ABA.
O CEO advogado
da Waste Management, David Steiner,
disse à publicação
algo bem parecido. “Os advogados
são treinados para pensar,
destrinchar os problemas e avaliar
as questões por todos os
lados. E isso ajuda a tomar boas
decisões.”
O advogado David
Dillon, CEO da Kroger Co., a maior
cadeia de supermercados do país,
contou que desenvolveu sua capacidade
de analisar problemas na faculdade
de Direito, onde aprendeu que,
para ganhar ações
criminais, tinha de entender o
caso melhor do que o promotor.
“Na advocacia, aprendi que
não poderia resolver bem
um problema ou uma questão
qualquer sem antes examiná-los
por todos os ângulos possíveis.”
Outros fatores
que favorecem os advogados, quando
considerados para o cargo de CEO,
são a capacidade de gerir
bem a reputação
da empresa, cumprir a exigência
imposta pela Comissão de
Valores Mobiliários (SEC)
de as sociedades anônimas
avaliarem e declararem riscos
aos investidores, administrar
as regulamentações
governamentais e “navegar”
legislação e os
tratados internacionais, no caso
de expansão da corporação.
Os diretores jurídicos
das corporações
têm mais chances de serem
alçados ao cargo de CEO,
por uma razão muito simples:
normalmente os membros do Conselho
de Administração
de uma corporação
escolhem, para o cargo, alguém
que eles conhecem. E três
figuras são constantes
nas reuniões do conselho:
o CEO, o CFO (chief financial
officer) e o diretor jurídico.
João Ozorio
de Melo é correspondente
da revista Consultor Jurídico
nos Estados Unidos.
Revista Consultor
Jurídico, 17 de julho de
2017, 8h53
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