Dor
de cabeça
Governo de São Paulo divulga
quais casos judiciais causam riscos
fiscais
23 de julho de 2016,
8h22
Por Felipe Luchete
Uma série de
ações em andamento no
Judiciário causa preocupação
ao governo de São Paulo para
fechar o caixa no futuro próximo.
A gestão Geraldo Alckmin (PDSB)
afirma que, embora o Executivo tenha
conseguido promover equilíbrio
nas contas, existem “passivos
contingentes” de questões
ainda sem decisão definitiva
no Judiciário.
Gestão Alckmin apontou processos
preocupantes em anexo da Lei de Diretrizes
Orçamentárias para 2017.
Marcelo Camargo/ABr
A
lista com os temas mais temerosos
foi divulgada discretamente em anexo
da Lei de Diretrizes Orçamentárias
de 2017, publicada na quinta-feira
(21/7) no Diário Oficial do
estado.

Gestão Alckmin apontou
processos preocupantes em anexo da
Lei de Diretrizes Orçamentárias
para 2017.
Todos esses processos
podem gerar efeito colateral aos cidadãos,
pois o governo reconhece que, se houver
grande ampliação no
estoque da dívida pública,
o desequilíbrio “terá
que ser compensado pelo incremento
do esforço fiscal”, ou
seja, aumento da receita por meio
de impostos, aliado à tentativa
de reduzir despesas.
O “caso com
o maior valor de risco fiscal“,
segundo o documento, é um recurso
extraordinário no Supremo Tribunal
Federal no qual servidores cobram
indenização por perdas
inflacionárias (RE 565.089).
Se perder, o estado calcula ter de
desembolsar R$ 500 bilhões.
Embora a corte costume
afastar pedidos de reajuste, por considerar
que só o Executivo tem o direito
de fixar valores, os autores da ação
dizem que o caso é diferente,
pois envolve inércia do Poder
Público que viola o direito
de revisão geral anual, fixada
pelo artigo 37 da Constituição.
O julgamento começou
em 2014, mas foi suspenso por pedido
de vista do ministro Dias Toffoli.
Por enquanto, a Procuradoria-Geral
do Estado está à frente
do placar, com quatro votos favoráveis
contra dois que concordam com os argumentos
dos servidores.
Veja a lista dos casos
mais relevantes:
Judicialização
da saúde – Governo
diz ser “expressivo” o
número de ações
ajuizadas por pessoas com as “mais
variadas moléstias”,
cobrando tratamentos e medicamentos
— importados e não disponibilizados
pelo SUS, com decisões de primeiro
e segundo grau que geram “grande
impacto nas finanças estaduais”,
inclusive com multas por descumprimento
e valores sequestrados para pagamento.
Na capital e na comarca de São
Carlos, mais de 3 mil ações
foram ajuizadas pedindo à Fazenda
o fornecimento da substância
fosfoetanolamina, que ficou conhecida
como “cápsula contra
o câncer”.
Responsabilidade
subsidiária –
Fazenda estadual tem sido condenada
a pagar obrigações trabalhistas
inadimplidas por prestadoras de serviços.
As decisões preocupam devido
à grande quantidade de terceirizados
e a espera por julgamento da repercussão
geral pelo STF.
Atendimento
carcerário –
Decisões fixam indenização
por danos morais a presos, “por
diversos motivos, com valores milionários”,
e geram “devastador efeito multiplicador”.
Um só processo em Praia Grande,
por exemplo, estipulou o pagamento
de R$ 10 mil por preso do Centro de
Detenção Provisória
da Região e R$ 5 mil para seus
familiares. Como a população
carcerária ultrapassa mil detentos,
a verba pode ultrapassar R$ 15 milhões.
Em Itirapina, o estado
foi proibido de fazer revista íntima
em visitantes de presos, condenado
a pagar R$ 1 milhão por dano
moral coletivo e pode ser obrigado
a instalar scanners corporais. “Não
é muito se pensarmos no microcosmo
de Itirapina, mas é um gasto
de vulto se houver a multiplicação
da situação no estado”,
diz o relatório.
Questão
ambiental – Defensoria
Pública tenta anular licitação
para alienação de 60
imóveis situados na região
do Brooklin, na capital, onde projetos
de parceria público-privada
investiram R$ 51 bilhões. “Eventual
procedência do pedido acarretaria
o reconhecimento jurídico do
direito dos ocupantes à concessão
de uso especial para fins de moradia”,
o que poderia ser usado como precedente.
Precatórios
– 19 precatórios
hoje suspensos somam R$ 2,3 bilhões
e podem voltar a ser cobrados se as
partes vencerem.
Insalubridade
– Inúmeras ações
cobram pagamento do adicional de insalubridade
com base na variação
do salário mínimo. Embora
a Súmula Vinculante 4, do STF,
considere a medida inconstitucional,
a regra tem sido ignorada por decisões
do Judiciário paulista e da
Justiça do Trabalho .
Cálculo
tributário –
Decisões judiciais têm
invalidado a cobrança de ICMS
nas importações de mercadorias
por não contribuinte, mesmo
após a edição
da Emenda Constitucional 33/2001 e
da Lei Complementar 114/2002, por
problemas da legislação
estadual. “A prevalecer a atual
orientação do Supremo
Tribunal Federal, o estado estaria,
há 12 anos, cobrando indevidamente
o ICMS nesta hipótese de importação
de bens”, afirma o relatório.
Dívida
da Vasp – O estado
é fiador em contrato de financiamento
da dívida da extinta companhia
Vasp com o Tesouro Nacional. Como
o valor não tem sido pago,
São Paulo sofreu várias
retenções de parcelas
do Fundo de Participação
dos Estados. Uma liminar do STF impediu
a União de paralisar o repasse
(ACO 776), mas o governo teme impactos
caso volte a ser obrigado a desembolsar
as parcelas.
Vistoria
escolar – “Inúmeras”
ações exigem atestado
de vistoria do Corpo de Bombeiros
em todas as escolas estaduais, com
imposições de multas
diárias. “Percebe-se
o crescente número de demandas
nessa área, com alto risco
de insucesso por parte do estado de
São Paulo”, reconhece
o governo.
Desapropriações
– 22 ações
discutem valores fixados em sentenças
já com trânsito em julgado,
por meio de ações rescisórias,
embargos à execução
e ações declaratórias,
cujo valor somado chega a R$ 3 bilhões.
Felipe Luchete é
repórter da revista Consultor
Jurídico.
Revista Consultor
Jurídico, 23 de julho de 2016,
8h22