Conflito
profissional
MEC barra criação de
curso de tecnólogo em Serviços
Jurídicos
26 de julho de 2016,
10h32
Por Felipe Luchete
O Ministério
da Educação impediu
a abertura de um curso para formar
tecnólogos em Serviços
Jurídicos, solicitado por uma
faculdade privada no Paraná.
Segundo a pasta, o objetivo foi evitar
“possível conflito profissional”
e “confusão” com
o exercício da advocacia, já
que não existe nenhuma regulamentação
sobre esse tipo de atividade. Ainda
assim, pelo menos outras duas instituições
do país já oferecem
aulas com nome semelhante, conforme
o banco de dados do próprio
MEC.
O tecnólogo
pode se formar em dois anos e sai
com diploma também considerado
de ensino superior. A Faculdade de
Paraíso do Norte planejava
abrir cem vagas anualmente, mas a
proposta foi rejeitada pela Secretaria
de Regulação e Supervisão
da Educação Superior,
em ato administrativo publicado no
dia 18 de julho, no Diário
Oficial da União.
Durante a análise
técnica do pedido, a Ordem
dos Advogados do Brasil chegou a ser
consultada e manifestou-se de forma
contrária à proposta.
Segundo o Conselho Federal, o curso
poderia formar pessoas para atividades
que são próprias do
advogado ou de estagiários
em Direito. A faculdade ainda poderá
recorrer ao Conselho Nacional de Educação.
Vagas abertas
Enquanto isso, o Centro Universitário
Internacional (Uninter) oferece desde
2014 aulas de Gestão de Serviços
Jurídicos e Notariais, com
3 mil vagas autorizadas e 1.820 horas
(quatro semestres), na modalidade
a distância, incluindo disciplinas
de Elementos de Processo Penal, Direito
Constitucional, Direito Tributário,
Direito Ambiental, Mediação
e Arbitragem, Processo Legislativo,
Juizado Especial e Processo Eletrônico.
O curso, de acordo
com o site da instituição,
“prepara você para um
excelente desempenho nas carreiras
parajurídicas, seja elas no
Poder Judiciário, nos cartórios
judiciais e extrajudiciais, tabelionatos,
na esfera policial, nos cartórios
e tabelionatos, escritórios
de advocacia, assessorias parlamentares,
mediação e arbitragem,
além de abrir largos horizontes
como profissional autônomo”.
No Centro Universitário
Filadélfia (UniFil), o curso
tecnológico em Serviços
Jurídicos tem 50 vagas autorizadas,
também com ensino a distância.
A carga horária é de
1.900 horas (cinco semestres), e a
grade curricular é composta
por História do Direito, Direito
Constitucional, Direito Penal I e
II e Direito Civil (dividida em cinco
disciplinas), entre outras matérias.
A universidade diz
que os formados na área poderão
“atuar em escritórios
de advocacia, auditoria jurídica,
departamentos jurídicos e até
mesmo em departamentos de recursos
humanos ou administrativos de grandes
empresas”.
Questionado pela revista
eletrônica Consultor Jurídico,
o MEC declarou que os dois cursos
tecnológicos foram criados
“dentro da autonomia das instituições”
— universidades e centros universitários
têm direito de começar
aulas sem autorização,
enquanto faculdades precisam aguardar
o sinal verde. Mesmo assim, ainda
devem passar por processo de reconhecimento
junto ao ministério, quando
serão avaliados.
Formação
técnica
A OAB ainda tenta acabar com outro
tipo de ensino: técnico em
Serviços Jurídicos,
que não tem status de ensino
superior e está entre os reconhecidos
pelo MEC no catálogo nacional
de cursos técnicos. O Colégio
de Presidentes da Ordem já
se manifestou contra a iniciativa
e, em abril, o presidente do Conselho
Federal, Claudio Lamachia, pediu a
exclusão dessa oferta em reunião
com a Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica
do ministério. Até agora,
porém, não houve mudanças.
O profissional é
responsável por executar “serviços
de suporte e apoio administrativo
às atividades de natureza jurídica”,
além de coordenar e executar
o arquivamento de processos e documentos
técnicos, conforme a descrição
da área. Em São Paulo,
o Centro Paula Souza teve mais de
5 mil matriculados desde 2008 para
o ensino técnico de Serviços
Jurídicos, que funciona hoje
em pelo menos 20 unidades em todo
o estado.
Felipe Luchete é
repórter da revista Consultor
Jurídico.
Revista Consultor
Jurídico, 26 de julho de 2016,
10h32