Cartas
marcadas
Lula faz denúncia contra Sergio
Moro na ONU apontando falta de isenção
28 de julho de 2016,
16h16
Por Sérgio
Rodas
O ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva foi à
Organização das Nações
Unida contra o juiz Sergio Moro. Seus
advogados protocolaram nesta quinta-feira
(28/7) uma petição no
Conselho de Direitos Humanos da ONU,
afirmando que o responsável
pelos processos da operação
“lava jato” em Curitiba
está agindo com parcialidade.
O documento foi elaborado
por Roberto Teixeira e Cristiano Zanin
Martins, do Teixeira, Martins &
Advogados, por José Roberto
Batochio, do Batochio Advogados, e
pelo inglês Geoffrey Robertson,
da banca londrina Doughty Street Chambers.
Caso o conselho aceite o pedido, o
Estado brasileiro será notificado
e deve prestar esclarecimentos sobre
a situação em até
seis meses
Na
peça, os advogados apresentam
argumentos semelhantes aos expostos
na Exceção de Suspeição
contra Moro que protocolaram no início
de julho. De acordo com eles, o juiz
federal perdeu a imparcialidade para
julgar Lula, e já formou a
convicção de que ele
é culpado dos fatos que lhe
são imputados.
Moro perdeu a imparcialidade e já
formou a convicção de
que Lula é culpado, diz petição.
Isso, segundo eles,
viola o Pacto de Direitos Políticos
e Civis adotado pela ONU, especialmente
a proteção contra prisão
ou detenção arbitrária
(artigo 9º); a presunção
de inocência (artigo 14); a
proteção contra interferência
arbitrária na privacidade e
contra ofensas ilegais à honra
e à reputação
(artigo 17); e a garantia de ser julgado
por um tribunal independente e imparcial
(artigo 14).
Conforme Teixeira,
Martins e Robertson, Sergio Moro desrespeitou
esses princípios ao autorizar
ilegalmente a condução
coercitiva do ex-presidente em março;
ao vazar materiais confidenciais para
a imprensa e divulgar ligações
interceptadas; e ao acusar o petista
doze meses em documento enviado ao
Supremo Tribunal Federal, no qual
ele também teria antecipado
juízo de valor.
Assim, os advogados
pedem que o Conselho de Direitos Humanos
“se pronuncie sobre as arbitrariedades
praticadas pelo juiz Sergio Moro contra
Lula, seus familiares, colaboradores
e advogados”. O objetivo é
assegurar que as investigações
contra o líder do PT sejam
feitas com respeito à, às
garantias constitucionais e aos tratados
internacionais.
Cristiano Zanin Martins
aponta que o combate à corrupção
não pode atropelar o ordenamento
jurídico. “Ações
contra a corrupção,
especialmente a corrupção
política, são de importância
vital para a democracia. Mas devem
ser efetivas e dentro da lei para
serem dignas de orgulho, e não
arbitrárias e ilegais, o que
acabará causando vergonha no
futuro. O perigo do juiz Moro é
que suas ações injustas
e sem observância da lei são
contraprodutivas e causarão
danos ao combate à corrupção.
Procuramos o conselho da ONU para
que sua manifestação
sirva de guia para os direitos fundamentais
que nossa Constituição
exige que sejam respeitados por juízes
e promotores”.
Já José
Roberto Batochio diz que o recurso
à ONU foi a única possibilidade
que restou à defesa de Lula,
pois todas as outras possibilidades
foram esgotadas. A seu ver, Moro não
é juiz natural das investigações
sobre o ex-presidente, uma vez que
os fatos em apuração
ocorreram no Estado de São
Paulo. O ex-presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil também
avaliou que a condução
coercitiva do petista foi inconstitucional,
mesmo sendo justificada, e ressaltou
que "o Judiciário ignora
a Constituição ao negar
a um cidadão as garantias nela
previstas".
Nessa mesma linha,
Geoffrey Robertson afirma que Lula
teve que ir à ONU “porque
não é possível
haver Justiça no Brasil dentro
de um sistema como esse”. “Telefones
grampeados, como de sua família
e advogados, e os textos e áudios
vazados para deleite de uma mídia
politicamente hostil. O mesmo juiz
que invade sua privacidade pode prendê-lo
a qualquer momento, e daí automaticamente
se torna a pessoa que irá julgá-lo,
decidindo se é culpado ou inocente,
sem um júri. Nenhum juiz na
Inglaterra ou na Europa poderia agir
dessa forma, atuando ao mesmo tempo
como promotor e juiz. Esta é
uma grande falha no sistema penal
brasileiro”, afirma.
Além disso,
o advogado inglês critica o
método de “prender para
delatar”, que criminalistas
acusam de estar sendo empregado na
“lava jato”. “O
juiz tem o poder de deter o suspeito
indefinidamente até obter uma
confissão e uma delação
premiada. Claro que isso leva a condenações
equivocadas, baseadas nas confissões
que o suspeito tem que fazer porque
quer sair da prisão”.
*Texto atualizado
às 16h33 e às 17h17
do dia 28/7 para acréscimo
e correção de informações.
Sérgio Rodas
é repórter da revista
Consultor Jurídico.
Revista Consultor
Jurídico, 28 de julho de 2016,
16h16